Mordida cruzada: preciso arrancar dente para tratar?

Caracterizada pelo desalinhamento dos dentes, a mordida cruzada (ou mordida invertida) é uma má oclusão que requer tratamento ortodôntico. Ela ocorre, geralmente, quando os dentes da arcada de baixo se sobrepõem aos da arcada de cima, gerando uma mordida desarmônica. É comum, por exemplo, que pacientes com esse tipo de má oclusão tenham o queixo projetado para frente, o que pode até mesmo afetar as funções orofaciais, como fala, mastigação e deglutição. Para saber mais sobre o assunto, o Sorrisologia conversou com a cirurgiã-dentista Uila Ramos, que falou mais sobre o que é mordida cruzada e como deve ser feito o seu tratamento. Confira!

É necessário extrair dente para tratar mordida cruzada?

De acordo com a cirurgiã-dentista, o tratamento para mordida cruzada costuma ser dividido em diferentes fases e nem sempre demanda a extração de dentes. “Cada paciente precisa ser avaliado individualmente. Através do planejamento ortodôntico é possível saber o tipo de má oclusão, a gravidade do problema (de natureza dentária, esquelética ou funcional), a quantidade de espaço nas arcadas e a quantidade de espaço que será preciso obter para corrigir”, explica a profissional. 

Em quadros mais raros, quando não é possível reposicionar os dentes apenas com o aparelho ortodôntico, acaba sendo necessário recorrer à extração dental. “Nos casos em que há uma grande falta de espaço (discrepância negativa) na arcada dentária - devido a perdas precoces, deficiência no desenvolvimento ósseo ou migrações dentárias - as exodontias são indicadas para disponibilizar espaço no arco dental e corrigir a má oclusão. A mordida cruzada é caracterizada pela inversão da mordida, em que um dente, grupos de dentes ou toda a arcada superior oclui atrás dos dentes inferiores. Esse erro na oclusão pode ser uni ou bilateral e/ou envolver os dentes anteriores”, complementa a especialista. 

Tratamento para mordida cruzada pode demandar cirurgia ortognática

Considerada um procedimento mais invasivo, a cirurgia ortognática é indicada em diferentes casos de deformidade dentofacial, sendo útil tanto para corrigir mordida cruzada quanto outros problemas no maxilar.  “No tratamento com a cirurgia ortognática são realizadas osteotomias (cirurgias que envolvem cortes nos ossos) na sutura palatina e em outros sítios ósseos para aumentar o perímetro da arcada superior, corrigir o cruzamento da mordida e proporcionar espaço para corrigir outras desarmonias, como o apinhamento dentário”, explica a especialista. 

De acordo com a dentista, além do procedimento cirúrgico em si, o tratamento é feito com o auxílio de aparelhos que auxiliam na expansão da maxila. “A forma tradicional de correção consiste em instalar um aparelho disjuntor do tipo Hyrax antes da cirurgia e, no ato cirúrgico, ativa-se totalmente o disjuntor. Outra modalidade envolve a instalação de distratores de ancoragem óssea com a finalidade de evitar danos aos dentes, instalados diretamente no palato durante o ato cirúrgico”, complementa a profissional. Esses aparelhos ficam fixados na parte interna dos dentes, junto ao céu da boca, auxiliando a aumentar o espaço e também a dar suporte para os dentes. 

Aparelho para mordida cruzada: quais os principais itens utilizados no tratamento?

De acordo com a cirurgiã-dentista, existem diferentes alternativas de tratamento para a mordida cruzada. Para evitar erros no processo, é fundamental que o paciente consulte um dentista de confiança. “A escolha do tratamento e a modalidade de aparelho para corrigir o cruzamento da mordida vai depender do tipo de mordida cruzada e do seu grau de severidade, que ditará as possibilidades e os limites de cada opção terapêutica”, explica. É possível, ainda assim, destacar os principais itens utilizados para corrigir a má oclusão:

Uso de elásticos intermaxilares (durante a correção ortodôntica);
Aparelhos expansores removíveis;
Disjuntores da maxila (no caso da mordida cruzada anterior, utiliza-se a tração reversa da maxila com o aparelho ortopédico do tipo máscara facial). 

Expansor palatino costuma ser indicado para dentições decíduas ou mistas

A especialista destaca que os aparelhos expansores mais utilizados podem ser removíveis (demandam o uso de uma chave, responsável por girar o torno do expansor para imprimir uma força no local) ou ortopédicos, que ficam cimentados nos dentes do paciente. Os modelos não removíveis costumam ser mais eficientes - a força é melhor aplicada e os resultados não dependem tanto do comprometimento do paciente. Após 90 dias do uso do aparelho, como destaca a Dra. Ramos, costuma-se realizar uma nova radiografia que já evidencia a neoformação óssea no espaço que foi aberto pela disjunção palatina.

“A indicação do tipo de aparelho depende basicamente do tipo de mordida cruzada e a severidade que a mesma apresenta. Na dentição decídua e mista, por exemplo, esse tratamento apresenta melhor resposta biológica, porque o paciente se encontra em crescimento e a maior plasticidade óssea favorece a correção da mordida”, explica a profissional

Vale destacar, no entanto, que nem sempre o uso do aparelho é eficaz para tratar mordida cruzada. De acordo com a cirurgiã-dentista, a maturidade esquelética tende a inviabilizar a expansão da arcada com a ajuda de aparelhos convencionais (como o Hyrax, HAAS ou McNAMARA). “Quando o paciente já saiu da fase de crescimento (ainda que jovem), e apresenta uma severa discrepância esquelética, o tratamento cirúrgico é mais indicado. Isso porque a tentativa da disjunção palatina pode não surtir o efeito desejado e ainda trazer efeitos colaterais, como reabsorções radiculares, edema e lesões aos tecidos moles”, complementa. 

A boa notícia, de acordo com a Dra. Ramos, é que existem aparelhos modernos indicados para o tratamento de mordida cruzada em adultos com dentição definitiva. “É possível tratar com o MARPE (Miniscrew-assisted Rapid Palatal Expansion), um aparelho disjuntor da maxila que conta com o auxílio de mini implantes para promover a abertura da sutura palatina em casos de pacientes que já apresentam a maturidade esquelética”, finaliza a especialista.